América do Sul é a região de maior risco para novas pandemias
26/06/2017
De onde surgirá a próxima pandemia? Provavelmente de morcegos que vivem na floresta Amazônica das Américas do Sul e Central. Esta é a conclusão de estudo elaborado por pesquisadores da ONG baseada em Nova York EcoHealth, publicado nesta semana na revista “Nature”. Os cientistas analisaram as zoonoses virais conhecidas e os mamíferos hospedeiros, estimaram o potencial de novos vírus que essas espécies podem carregar e identificaram as regiões do planeta com maior risco.
Se pensarmos nos últimos 20 anos nós tivemos ebola, SARS, MERS e os vírus nipah e hendra, todos carregados por morcegos — disse Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, em entrevista ao “Wall Street Journal”.
Daszak e seu colega Kevin Olival reuniram informações sobre todos os vírus conhecidos que infectam mamíferos, 586 no total, encontrados em 754 espécies — alguns vírus afetam várias espécies. Para corrigir o fato de que alguns animais são mais estudados que outros, os pesquisadores contaram o número de publicações científicas existentes para cada espécie, depois calcularam quantos vírus desconhecidos devem ser encontrados quando elas foram tão bem estudadas como a raposa vermelha, mamífero com maior número de publicações.
Os resultados mostraram que animais maiores carregam mais vírus que os menores, e que espécies que vivem espalhadas por grandes áreas têm mais vírus que as que vivem confinadas num habitat restrito.
Numa etapa seguinte, os pesquisadores analisaram apenas os vírus zoonóticos, que são transmitidos de animais para humanos. Da base de dados com 586 vírus, 263 (44,9%) foram detectados em humanos, sendo 75 exclusivamente humanos e 188 zoonóticos. Cruzando os números os cientistas estimaram que os morcegos são os vetores mais ameaçadores, com média de 17,22 zoonoses desconhecidas para cada uma das cerca de 1,2 mil espécies desses mamíferos voadores.
Existem literalmente milhares de infecções virais em potencial esperando para serem descobertas em morcegos — disse Daszak. Os primatas não-humanos, como macacos e gorilas, são a segunda maior ameaça em potencial, com média de 9,67 zoonoses ainda desconhecidas em cada espécie. O HIV é um dos vírus transmitidos de primatas para os humanos. Os roedores, como ratos e camundongos, seguem em terceiro, com média de 9,63. Esses dados foram cruzados com informações da União Internacional para a Conservação da Natureza sobre a ocorrência das espécies de mamíferos no planeta, e apontaram as Américas do Sul e Central como as regiões mais propensas a ver o surgimento de uma nova zoonose.
MEDIDA APROPRIADA É EVITAR CONTATO
Mas Daszak ressalta que não é preciso temer ou combater o morcego. Esse mamífero é importantíssimo para a manutenção dos ecossistemas, por ser polinizador e controlar as populações de insetos. O ideal é manter a distância e deixá-los sossegados em seus habitat.
Esses vírus só aparecerão se as pessoas continuarem invadindo os habitats dos morcegos, se alimentando deles ou mantendo outros tipos de contato — afirmou o pesquisador.
Alguns pesquisadores receberam o estudo com ceticismo. Em entrevista à BBC, James Lloyd-Smith, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, afirmou que “apesar de a maioria das pandemias serem zoonoses, as maioria das zoonoses não causam pandemias”.
As predições são melhor usadas para priorizar pesquisas e esforços de vigilância, não para guiar decisões de políticas específicas — alertou Lloyd-Smith.
Fabian Leendertz, epidemiologista no Instituto Robert Koch, em Berlim, afirmou à “Science” que o estudo oferece fortes evidências de que os morcegos são realmente únicos em se tratando de zoonoses, mas alerta que se trata apenas de estimativas e os morcegos são bastante estudados.
O que é preciso agora é de mais dados do mundo real mostrando como exatamente doenças infecciosas são transmitidas de animais para humanos — comentou.
Fonte: /Oglobo.com